Ontem, uma pessoa muito querida e próxima me disse que estava com “receio” de participar do meu curso de resiliência porque havia lido no folder que os participantes “teriam que” elaborar um “projeto” e ela não sabia fazer um “projeto”, não queria “me frustrar”, “atrapalhar” o meu curso.
Ri e perguntei-lhe se havia lido “O Pequeno Príncipe” – uma obra para todas as idades. Eis alguns trechos do diálogo travado com a raposa:
“Que quer dizer cativar ?
……
— Por favor… cativa-me! disse ela.
— Eu bem quisera, respondeu o pequeno príncipe, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
— Nós não conhecemos mais que as coisas que cativamos, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer nada. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
—O que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
— É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, como agora, sobre a relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é fonte de mal-entendidos. Mas, a cada dia, tu poderás sentar um pouco mais perto.”
Quero voltar à fala da pessoa com quem conversei: receio (temor, medo), teriam que (dever, obrigação), projeto (algo técnico ?), frustrar o outro (como, de que forma).
Do que exatamente ela estava falando ? A que ela se referia ? O que queria dizer com tais “palavras” ? O que tais palavras significavam para ela e não faziam sentido para mim ?
Diz a sabedoria popular que a raposa é um ser astuto e ela deveria ter lá suas razões quando disse “a linguagem é fonte de mal-entendidos”.
Isso acontece porque ao nos comunicarmos não nos é possível expressar com riqueza de detalhes todas as nossas experiências e sentimentos.
Muitas informações acabam se tornando indisponíveis ou inacessíveis ao outro – que só as entenderá se tiver sido “cativado” por nós, se estiver em sintonia, efetivamente conectado a nós e nós a ele.
Quando nossa comunicação não nos permite conquistar ou atingir os resultados que desejamos, a frustração é um sentimento praticamente que inevitável.
O essencial é invisível aos olhos, e só se pode ver com o coração – é outra grande sacada do principezinho.
Mas “ver com o coração” tornou-se para nós uma missão árdua, quase que impossível; pois crescemos e, assim o fazendo, perdemos muito de nosso brilho, de nossa essência e ingenuidade.
“As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo para as crianças estar a toda hora explicando” – explica o principezinho.
E como já observou a raposa “os homens não têm mais tempo de conhecer nada”, temos pressa, queremos que tudo já esteja pronto e mastigado e nossos relacionamentos não acontecem exatamente da forma e na velocidade que tanto desejamos.
Agir com resiliência também significa, portanto compreender o outro e comunicar-se assertivamente.
De acordo com o interesse dos participantes, no curso sobre resiliência abordaremos a questão da comunicação – ainda que esse assunto mereça um curso exclusivo.
Aguardo por sua presença !
Goste muito do artigo. Na verdade adorei. Quantas vezes não perdemos oportunidades importantes porque a comunicação é falha? Já aconteceu comigo. O “principezinho” tem toda razão, crescemos e perdemos muito da capacidade de comunicação. Perdemos a simplicidade. Temos dificuldade em nos comunicar, em “ouvir” de fato o que o outro diz nas “entrelinhas”. Há que se ter sensibilidade, paciência e bom senso. A mim o artigo ajudou muito. Percebi que preciso acalmar o coração e o cérebro. Mas e principalmente, conclui por todo o conteúdo do texto, que precisamos aguçar a capacidade de ouvir o que o “outro fala pela palavra” e também “aquilo” que ele não expressa de forma literal, mas “fala” com a voz do coração.
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