Às vezes, me sinto um total estranho quando o assunto é “arte”.
Mas, respiro “história” e me é extremamente prazeroso conhecer os fatos que deram origem a determinada iniciativa.
E falando de “arte”, duas experiências não me saem da memória.
Quando ainda no “ginásio”, visitei o Centro Cultural do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, onde havia uma exposição sobre o renascentismo (suas instalações foram parcialmente destruídas por um incêndio em fevereiro deste ano) e me encantei com as réplicas de estátuas clássicas em tamanho original e com a fala de Michelangelo, que ao ser chamado pelo Papa (para pintar a Capela Sistina) disse: “Se o Papa quiser falar comigo que venha até mim. Papas existirão muitos, Michelangelo um só”. (no coments, ele era o cara…)
A segunda foi conhecer pessoalmente o quadro intitulado “A BALSA DA MEDUSA”, exposto no Museu do Louvre, de autoria de Théodore Géricault (http://pt.wikipedia.org/wiki/Th%C3%A9odore_G%C3%A9ricault).
Conta a história que no dia 2 de julho de 1816, a fragata francesa “Medusa”, que ia da França para o Senegal, encalhou próximo à costa do Marrocos.
Depois do naufrágio 147 pessoas não conseguiram lugares nos botes salva-vidas e, por isso, se amontoaram em uma pequena jangada construída precariamente com tábuas, cordas e partes do mastro. A “embarcação” foi nomeada “A Balsa da Medusa”. Nos primeiros dias diversas pessoas desapareceram no oceano e outras ainda foram mortas a tiros por oficiais em embarcações próximas.
A tempestade os arrastou ao mar aberto por mais de 27 dias sem rumo.
Após diversos dias na embarcação um dos sobreviventes, o médico Jean-Baptiste Henry Savigny assumiu a liderança do grupo e passou a dissecar os corpos dos mortos para que servisse de alimento aos sobreviventes e para que estes não morressem de fome. Depois de 13 dias à deriva a Balsa da Medusa foi resgatada pelo Argus, um pequeno navio mercante. A esta altura restavam apenas 15 sobreviventes.
Inspirado nesse acontecimento, Géricault pintou A Balsa da Medusa, durante 18 meses de trabalho ininterrupto. Para construir a cena o artista realizou um estudo substancial dos detalhes e entrevistou os sobrevivente e enfermos, bem como observou o que restava dos corpos dos mortos.
Seu quadro retrata não somente o naufrágio da fragata “Medusa”; retrata também um acontecimento que comoveu e trouxe repercussões que tocaram o mais profundo da alma humana.
Segundo os “experts”, nessa pintura podemos ver as diferentes atitudes humanas que se manifestam nos momentos cruciais da vida; levantando questionamentos sobre qual seria o nosso lugar nessa balsa e de que forma enfrentamos as situações difíceis que tantas vezes cruzam os nossos caminhos:
- Nos deixamos derrotar e entregamos todas as nossas forças ?
- Não acreditamos que tenha solução ?
- Duvidamos de tudo e de todos ?
- Somos o que mantemos a esperança acima de tudo ?
- Não deixamos de nos esforçar para chegar à vitória ?
Alguns dos sobreviventes se apresentam deitados, em total abandono, sem reação alguma. Parecem simplesmente aguardar a morte inevitável.
Outros se mostram desesperançados, alheios aos demais. O olhar distante, perdido no vazio demonstra que perderam a vontade de viver e de lutar.
Um punhado deles mantém a esperança acima de tudo,tiram do corpo as próprias camisas e as agitam com violência, fixando um ponto no horizonte, como se desejassem ser vistos por alguma embarcação, por alguém.
O curioso, entretanto, é que embora eles balancem com constância as vestes brancas ao vento, não há nenhum navio à vista. Nada que indique que eles serão resgatados.
A balsa é como o planeta Terra. Os tripulantes são a Humanidade e as atitudes que cada um toma diante da vida.
Podemos ser como os desesperançados, quando atravessamos situações difíceis e nos decidimos a simplesmente nos entregar sem luta alguma.
Podemos estar enquadrados entre aqueles que acreditam que não há solução e, assim, também não há porque se esforçar para melhorar o estado de coisas.
Podemos também ser dos que duvidamos de tudo e todos. Ou, finalmente, podemos ser aqueles que mantemos a esperança acima de tudo. Os que nos esforçamos para chegar à vitória, embora ela pareça estar muito, muito distante.
Afinal, decidir pela vitória em toda circunstância que a vida nos coloca, muito mais do que esperança, “deveria” ser uma obrigação (mas vale lembrar que é uma escolha)
O relato acima conta a história da pintura de uma forma romanceada, motivacional.
Agora, se você gosta de ler e de conhecer outros olhares, recomendo dar uma olhadinha neste material da Unicamp: http://www.unicamp.br/chaa/eha/atas/2012/Karin%20Philippov.pdf
Interessante paralelismo.
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